Os mitos e as ideias erradas sobre os eléctricos e plug-ins
O ser humano é engraçado, quando não conhece algo para não dar parte fraca e mostrar ignorância cria mecanismos de defesa com mitos que são perpetuados.
Os portugueses então parecem ser peritos nestas questões, ou não tivesse eu já escrito sobre mitos antigos, outros mais recentes e ainda outros sobre GPL.
Agora é a vez dos eléctricos e plug-ins!
Os eléctricos têm que trocar de bateria a cada 8 anos
Acho que este mito é relacionado com o facto de alguns fabricantes darem garantia de 8 anos no sistema eléctrico e bateria. Embora exista algum fundo de verdade e alguns eléctricos percam alguma autonomia com o uso excessivo de cargas rápidas e a degradação normal das baterias, ao fim de 8 anos podem ter perdido 20% da sua capacidade.
Existem alguns casos em que isto não acontece. Híbridos como o Prius que fazem serviço de táxi e até o caso de um Chevrolet Volt, um plug-in que já passou os 500.000km sem sinais de degradação da bateria.
Mesmo que o mito fosse verdade, com o valor que se poupa em combustível e manutenção, continuava a compensar ao fim de 8 anos colocar uma bateria nova, mas não é o caso.
Produzir um carro eléctrico polui mais que um carro convencional
Ainda se lembram do "estudo" que dizia que o fabrico de um Hummer H2 poluía menos que um Prius e que a mina de onde era extraído o lítio para as baterias tinha arrasado tudo à sua volta? Pois, a mina não era usada pela Toyota e aquele desastre ambiental tinha mais de 30 anos. A notícia tinha sido avançada pelo Daily Mail sem qualquer confirmação.
É verdade que um carro eléctrico pode usar mais energia a ser produzido do que um carro convencional, mas isso não equivale directamente em poluição porque normalmente são usados materiais reciclados e recicláveis e grande parte destas fabricas usam energia renovável.
Somando a isso o facto de as emissões de um carro eléctrico serem muito mais baixas que um carro convencional, em apenas 1 a 2 anos de utilização compensaria para tal feito, se as fabricas fossem ineficientes.
A electricidade polui mais que a gasolina ou gasóleo
Existe a ideia que em todo o mundo as centrais são a carvão ou óleo. No site Nowtricity podemos perceber que mesmo em países com uma percentagem de energias renováveis inferior a 15% as emissões por cada 100km num carro que gaste 20kW/100km são iguais a um carro que emita 120g/km, e isto só a comparar com o que sai do escape. Colocamos na equação a energia para produzir e transportar o combustível e o eléctrico sai sempre vencedor.
Em Portugal, hoje, estamos com 88% de energia renovável e em Maio de 2016 estivemos nas bocas do mundo quando, durante 4 dias, apenas usámos energias renováveis. No resto da Europa o panorama é semelhante com uma grande aposta em energias renováveis e baixas emissões.
A rede eléctrica não aguenta com todos os carros a carregar
A maioria dos carros eléctricos carrega de noite por ser mais barato. E é mais barato porque as centrais eléctricas não podem parar e a electricidade que geram é desperdiçada. Desta forma os consumidores com a energia mais barata acabam por usar essa electricidade.
Alguma desta energia gerada por renováveis até já é aproveitada em algumas barragens para bombear água de um local para o outro, funcionando como uma reserva energética. No caso de Portugal alguma desta energia é vendida a Espanha. Chegamos a vender 2.5GW ou mais, energia suficiente para carregar 100.000 Nissan Leaf dos 0 aos 100% de bateria.
Outro factor a ter em conta são as refinarias existentes em Portugal que consumem muita energia. A usar energia eléctrica para mover um automóvel usamos menos combustíveis, o que reduz a quantidade de combustível refinado e reduz o consumo energético.
O maior problema em termos de infra-estrutura é a falta de pontos de carregamento, não sendo o eléctrico uma solução para todos.
Se mudarmos todos para carros eléctricos a electricidade vai aumentar
Já diziam o mesmo do GPL mas este continua 88 cêntimos mais barato que a gasolina e 70 cêntimos mais barato que o gasóleo.
Existem benefícios para a economia local com a redução de emissões e ruído, menos doenças e menor dependência energética externa da importação de petróleo. Alguma energia que é produzida em excesso passa também a ser aproveitada e isto reduz parcialmente os custos com a produção de energia, levando a um aumento de receita.
As próprias casas e industria estão cada vez mais eficientes e a consumir menos energia, pelo que os carros eléctricos acabam por equilibrar essa quebra de consumo.
É verdade que hoje o carro eléctrico não é solução para todos, mas já o é para alguns. Estes mitos criados em torno dos carros eléctricos fazem-me lembrar os mitos do GPL que acabaram por ir caindo com os aumentos sucessivos dos combustíveis.
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