Provavelmente não vamos ter hidrogénio no transporte rodoviário
O hidrogénio já não é alternativa viável nos ligeiros de passageiros, mas parece que nos pesados de longo curso (camiões e autocarros) também perdeu a corrida. As baterias ganharam às células de combustível por várias razões, mas a principal é mesmo económica.
O hidrogénio não é nenhuma novidade no mundo automóvel. Já desde os anos 60 que são desenvolvidos protótipos por inúmeras marcas, tendo a Honda, Mazda, BMW, Mercedes e Toyota sido as que mais investiram e chegaram a ter viaturas em uso por consumidores. Actualmente apenas a Toyota e Hyundai têm disponíveis automóveis ligeiros a hidrogénio.
O preço elevado das viaturas, do combustível, e a dificuldade em resolver problemas de fugas de hidrogénio dos depósitos e os problemas no abastecimento mantiveram-se durante a última década. Com a evolução das baterias, a redução do seu custo e peso temos agora no mercado carros eléctricos com autonomias reais superiores a 400km a preços mais baixos que um carro equivalente FCEV.
Aos preços de hoje um Mirai custa mais 10 a 15 mil Euro em relação a um eléctrico semelhante, e o preço de utilização é mais do dobro do custo de um carro a gasóleo. Na California, com os recentes aumentos do hidrogénio o valor chega a ser mais do triplo.
A última esperança eram os pesados
Com a batalha dos ligeiros perdida o investimento das marcas no hidrogénio virou-se para os pesados.
No entanto, devido a custos mais reduzidos, os autocarros eléctricos têm ganho terreno, com notícias recentes a confirmar o cancelamento de várias encomendas de autocarros a hidrogénio. A somar o custo de um ponto de abastecimento de hidrogénio com custos a rondar os 5 milhões, contra perto de 2 milhões para um hub de carregadores semelhante e ao preço elevado do custo do hidrogénio, deixa de fazer sentido para circuitos urbanos ou regionais o investimento adicional.
Nos camiões verifica-se o mesmo, apenas os camiões de longo curso eram a última incognita sobre qual o futuro de utilização de energia: célula de combustível ou bateria.
Como a infraestrutura de carregamento de automóveis eléctricos também serve camiões, com carregadores de 350kW a serem comuns em auto-estradas nos países nórdicos (e por cá já existem alguns), já se torna possível em algumas rotas de longo curso usar camiões eléctricos. Com a nova legislação que obriga a carregadores com 400kW de potência na TEN-T até ao fim de 2025 mais rotas ficarão disponíveis.
A Volvo, Scania e Mercedes já tem camiões de longo curso no terreno e a Mercedes anunciou recentemente o eActros 600 que faz mais de 500km numa só carga. Pelas regras europeias apenas se pode conduzir 4h30 até ser obrigatória uma paragem de 45 minutos. À velocidade máxima que um camião pode circular, este pode percorrer no máximo 400km durante esse tempo.
A infraestrutura de abastecimento está a desaparecer
Devido aos custos elevados e à fraca adesão, postos de abastecimento de hidrogénio têm vindo a fechar um pouco por todo o mundo.
Na California a Shell desistiu de construir uma rede de 48 postos de abastecimento para camiões, fechou outros postos para ligeiros e fechou todos os postos de abastecimento em Inglaterra. Na Dinamarca a Everfuel fechou todos os postos de abastecimento de hidrogénio.
Problemas de abastecimento levaram também a que três terços dos postos de abastecimento na Coreia do Sul fechassem temporariamente, isto depois do preço de hidrogénio ter quase triplicado.
Com o preço do hidrogénio a subir de forma galopante, a promessa de um combustível com custos semelhantes ao gasóleo ou gás natural desvaneceu. Faz assim sentido manter o gasóleo durante mais uns anos até que a infraestrutura de carregamentos permita tempos de viagem semelhantes por essa Europa fora num camião eléctrico.
O hidrogénio na mobilidade em Portugal
Em Portugal, através do projecto CUTE com a STCP e a Mercedes em 2003 existiram autocarros a hidrogénio a circular em modo experimental que, infelizmente, não corresponderam às expectativas. Mais recentemente em 2019 passaram a circular dois autocarros Caetano em Cascais.
O futuro do hidrogénio é na industria
Fica a dúvida se o hidrogénio ainda vingará no transporte marítimo ou aeronáutico, mas onde tem futuro garantido é na industria. Scania e Volvo já começaram a desenvolver camiões que usam a tecnologia de aço verde através da H2 Green Steel, reduzindo emissões na produção de aço.
Outros projectos para a injecção de hidrogénio verde na rede de gás natural também já estão a decorrer, um deles em Portugal, para reduzir emissões e diminuir a dependência de fornecedores externos de combustíveis fósseis.
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