Qual é afinal o futuro do gasóleo?
Já estou para escrever este artigo desde 2010, ainda o pensei escrever em 2012 quando comprei um carro a gasóleo (era impossível comprar a gasolina) mas só agora decidi avançar. É que sempre existiu uma mentalidade a favor do gasóleo e sempre fui considerado anti-diesel, mas felizmente algumas mentalidades já estão a mudar.
E a Europa, essa, parece que acordou para a vida com a quebra de vendas de carros novos a gasóleo após o escândalo das emissões da Volkswagen. Até Portugal, onde as vendas de carros a gasóleo contribuíam para mais de 70% das vendas de carros novos já vê uma queda significativa.
A reviravolta foi tal que a Volkswagen tem tido dificuldades em ter motores a gasolina em stock para fazer face à procura.
Os carros a gasóleo não vão acabar, já aqui escrevi sobre isso, e continuam a fazer sentido nalguns tipos de utilização (embora cada vez menos). O grande problema é que de um momento para outro todos os carros tinham que ser vendidos a gasóleo, e a culpa acho que foi da tributação sobre o litro do gasóleo e de alguma pressão dos vendedores de carros.
O gasóleo não é mais barato que a gasolina
O gasóleo é mais barato que a gasolina só após impostos, embora não tanto actualmente. Hoje numa lowcost a diferença entre a gasolina e o gasóleo simples é de apenas 7 cêntimos por litro e nas bombas de marca 6,5 cêntimos por litro.
O preço final apenas é mais barato porque os impostos são reduzidos relativamente à gasolina. A verdade é que se tirarmos os impostos a um litro de gasolina e gasóleo simples estes custam €0,375 e €0,460 respectivamente.
Por curiosidade, o litro do GPL sem impostos custa apenas €0,241.
Sem impostos um litro de gasóleo é 8,5 cêntimos mais caro do que a gasolina
Não sabemos fazer contas, o que interessa é o preço por litro
O bloco de um motor a gasóleo é mais caro de produzir, sem contar com os restantes componentes adicionais que nem sempre equipam um motor equivalente a gasolina.
Isto faz com que um carro a gasóleo seja geralmente mais caro que um carro a gasolina. Lembro-me de uma revista nacional ter feito uma análise entre o preço de compra de um carro a gasolina e gasóleo equivalente em vários segmentos e o normal era serem necessários percorrer mais de 150.000km para começar a poupar na bomba. Nalguns casos os valores eram superiores a 500.000km, mais do que a vida útil do carro.
E isto era sem somar os custos acrescidos de manutenção de um carro a gasóleo. E sim, diesel ou gasóleo é a mesma coisa, por isso não pensem, como já ouvi, que sabiam que a manutenção dos carros a gasóleo eram mais caras, mas aquele era diesel.
No caso dos carros com filtros de partículas existem ainda outros custos adicionais. A Peugeot / Citroën usava o aditivo Eolys que era necessário reatestar e alguns carros mais recentes agora necessitam de AdBlue, cujo preço por litro ronda os 60 cêntimos por litro. Se for um carro que consuma apenas 1,5 litros de AdBlue a cada 1000km estamos a falar de mais 9 cêntimos a cada 100 quilómetros para desequilibrar mais as contas a favor da gasolina.
A poluição é superior num carro a gasóleo
Se apenas olharmos ao CO₂, um litro de gasolina emite 2.31kg enquanto que um litro de gasóleo emite 2.68kg. Isto não tem em conta as emissões na refinação, que são superiores no gasóleo. Mas o CO₂ não é o maior problema, até porque regra geral o consumo de um motor a gasóleo é menor ao de um a gasolina. O grande problema dos carros a gasóleo sempre foram as emissões de partículas.
Existem estudos que demonstram o aumento de doenças respiratórias e enfartes com o aumento da circulação de carros a gasóleo. Ao contrário do CO₂ as partículas ficam suspensas no ar e não dissipam. Em cidades é preocupante porque acabam por ser inaladas pelos habitantes.
Os filtros de partículas supostamente vieram atenuar essas emissões. Infelizmente, como se pode verificar com o caso da Volkswagen as emissões não correspondiam à realidade e vários fabricantes automóveis tinham carros com emissões superiores aos limites legais durante o seu uso.
E é por isto que se pretende começar a proibir a circulação de carros a gasóleo em várias cidades da Europa.
O gasóleo nunca compensou monetariamente para a maioria dos condutores
Existem muitos carros a gasóleo a circular que apenas andam em cidade e fazem menos de 15.000km por ano. São carros que em alguns casos necessitam de mais de 8 anos para que comecem a compensar monetariamente no combustível, excluindo os custos adicionais com a sua manutenção.
Em Portugal em 2017 existiam 6.447.241 veículos em circulação, desses 4.173.980 eram a gasóleo. Somos um país pequeno, a não ser que existam muitos comerciais a percorrer o país de ponta a ponta, mas num país com apenas 4.7 milhões de cidadãos activos no mercado de trabalho é difícil.
Muitas vezes um carro a gasolina seria mais económico, isto sem colocar em cima da mesa outras propostas como o GPL ou os híbridos.
O argumento do valor de retoma mais alto também está a ir por água abaixo com os carros a gasolina no mercado de usados a valorizar face aos a gasóleo e empresas de renting a aumentar o valor das rendas de carros a gasóleo já a pensar na sua futura desvalorização.
Em que casos ainda compensa o gasóleo afinal?
Nos pesados ainda faz sentido o gasóleo. São motores que necessitam de força para puxar carga, percorrem longas distâncias com o motor em rotações constantes o que os torna ideais em termos de longevidade e baixos consumos.
Nas máquinas agrícolas também faz todo o sentido porque o gasóleo é facilmente transportável e nem sempre é fácil levar alguns destes "monstros" a um posto de abastecimento atestar.
Nos transportes de passageiros de longo curso também. Já nos urbanos o gás natural é a escolha certa por ter emissões reduzidas. Isto falando de transporte rodoviário claro, tanto os comboios como metropolitanos funcionam a electricidade, e em Portugal uma grande percentagem é renovável.
Para as empresas que ainda não podem dar o salto para o eléctrico, fiscalmente ainda compensa ter viaturas a gasóleo na sua frota. Cabe ao governo permitir as mesmas reduções também na gasolina ou GPL, embora o mais provável é tal não acontecer e esse valor ser canalizado para que as empresas adoptem os carros eléctricos.
Para o condutor comum o gasóleo já não compensa
E sobretudo, se já têm um carro a gasóleo, não vale a pena agora ir a correr trocar. A não ser em casos específicos de carros com menos de 4 anos que ainda tenham algum valor residual, o ideal é continuar a usar o carro. Mas se a ideia é mesmo trocar podem usar o Comparador de Consumos que faz os cálculos automaticamente e indica qual a opção mais barata.
Tirando algumas marcas com campanhas especiais de troca de carros a gasóleo por híbridos, o valor de retoma dos carros a gasóleo tem vindo a descer.
Portanto se estão a pensar em comprar um carro a gasóleo em 2019 tenham em atenção à sua futura desvalorização, custos de utilização e manutenção. O preço por litro continua a aproximar-se do da gasolina. É necessário fazer bem as contas, e apenas em quilometragens elevadas ou como carro de empresa é que ainda pode compensar.
Adicionar comentário